SATYA -Rumo a autenticidade

17/04/2012 15:55

 

 La Verité - Jules Joseph Lefevre

 

 

“Não-mentir” seria muito pouco para compreendermos SATYA (veracidade) em toda sua amplitude e então iniciamos essa abordagem do assunto pelo nosso relacionamento com a verdade. Por que mentimos? Para agradar? Para esconder? Por medo? Por educação? As justificativas são inúmeras mas acima de tudo é importante perceber que mentir é um hábito; um hábito que enfraquece a mente. E como a disciplina o yoga propõe a purificação do praticante nos mais profundos níveis, a ideia é que passemos pessoalmente a identificar nossos “desvios” internos na intenção de eliminá-los forjando assim uma atitude mais pura e fortalecida diante  da vida.

Através da prática desse yama podemos resgatar nossa autenticidade,  sabendo que somos  um ser único no universo com um propósito específico a ser realizado nesta vida.

E como será que podemos nos manter num estado autêntico?

A verdade está em nenhum outro lugar a não ser dentro de cada um de nós, como uma referência pessoal e intransferível. Mas a questão é que não fomos criados com essa percepção e a verdade para nós acaba sendo o senso comum. Seguimos os passos de nossas referências familiares ou sociais raramente nos questionando se aquele rumo nos realiza profundamente. Podemos fazer escolhas baseados em diversos parâmetros mas dificilmente priorizamos a voz interior ou o chamado da intuição.

Embora o exercício de SATYA também componha a prática de yoga num nível mais comportamental ou psicológico, a prática de ásanas, pranayamas, yoga nidra, meditação (dentre outras técnicas) a um ritmo constante ajuda a construir esse indivíduo mais verdadeiro. Os efeitos de um bom sadhana cumulativamente vão sendo absorvidos pelas consciências física, mental e emocional do praticante se tornando uma nova referência de viver, de sentir. 

Um dos parâmetros para se perceber “em verdade” é o alinhamento entre pensamentos, palavras e atitudes. Qualquer discrepância entre eles vai certamente gerar um desequilíbrio interno, tensionando corpo, aprisionando a mente e desperdiçando energia e poder. Ao pensar, falar e agir coerentemente, nosso potencial realizador está em seu máximo aproveitamento e nossa energia focada. Além do que, não é preciso perder tempo sustentando situações divergentes seja  dentro ou fora de você.

 

Estando fora dessa sintonia imediatamente o yogue passa a perceber a diferença entre o que para ele é verdadeiro (saudável, sinônimo de bem-estar) ou não. Seu corpo, mente e emoções manifestarão nitidamente que aquela escolha não serve para o novo caminho, o caminho da sua verdade. Ao não se “sentir à vontade” imediatamente podemos saber que aquela se trata de uma circunstância não favorável a nós mesmo que esta pareça atraente e mesmo que todos digam que esse é o melhor caminho... Essa sensibilização para os sinais ou o desabrochar da intuição (ou a sabedoria do coração) é um dos pilares transformadores que se desenvolvem no praticante de yoga, pois podemos passar uma vida toda não nos sentindo à vontade e nem mesmo nos dar conta disso...ou talvez ignorar que algo possa ser feito a respeito.

Condicionamentos, leis, crenças e hábitos distorcidos, como mentir, por exemplo, anulam nossa percepção de nós mesmos e nos fazem acreditar que aquela situação de desrespeito, abuso ou descaso seja normal de se conviver, seja ela em relação a nós mesmos ou em relação ao outro.

Voltar a “se sentir” através do yoga é como voltar a encarar a vocação dentro de si permitindo que esta se manifeste. É acreditar em nosso entusiasmo mesmo que “racionalmente” ele não faça sentido e permitir que a nossa natureza mais autêntica seja posta em prática, e que o nosso poder venha à tona espontaneamente.

 

“A cabeça é o problema, o coração é a solução” – OSHO